Grande coisa estar sozinho

Esses dias tentei me enganar: “grande coisa você estar sozinha”, disse a mim mesma a respeito da minha solidão – solidão esta que não se refere apenas à solteirice, mas ao estado de estar sozinha nas minhas principais conversas e expressões de sentimentos.

Não pude me envolver muito tempo nessa ilusão. Estar sozinho é, sim, grande coisa. Foi sozinha que aprendi sobre mim e sobre o outro. Foi sozinha que aprendi a esperar, espernear e esperar mais um pouquinho. Foi sozinha onde sofri e onde cresci.

Estar sozinho sempre foi o que mais me doeu e, coincidentemente, o que mais me aconteceu – estando eu cercada de pessoas ou não. Por mais que odeie esse estado de espírito em que sempre me encontrei, não posso deixar de validar minha dor de me sentir só e o quão grandioso vai ser quando eu encontrar alguém.

Fase

Coração bobo a gente tenta ignorar
gosta de abrir ferida pra saber até onde vai dar

Coração bobo, que insiste em falar
Teima em fazer cabeça mas só consegue cavar

E esse coração, que só derrete a si mesmo,
vai encontrando os tons que compõem seu vermelho

Vai deixar de ser cabeça
se torna impulso
apenas pulso.

Foto: Reprodução internet.

Resquícios de passado

Ana sempre sonhou alto. Dessas de imaginar o mundo em suas mãos, acreditava na facilidade com que as coisas aconteceriam em sua vida com o simples mover dos tempos. Ah, a fé. Das conversas dos adultos, ouvia elogios e previsões brilhantes pro futuro. Passou a tirar os pés do chão e ansiou cada dia mais por esse por vir maravilhoso.

Ela estudou pra caramba, entrou pra faculdade, sonhou com a vida pós formatura. Com certeza iria escrever! Lançaria um livro, talvez, e faria do mundo um lugar melhor com as palavras de sua cabeça que por fim respirariam. Mas não aguentava mais a casa e as reclamações de família. Queria a própria casa, pra fazer o que quiser, pra se encontrar com quem ela é.

Ana se casou e agora tem filhos. Deixou seus antigos projetos empilhados na prateleira. Ela olha para eles de relance enquanto faz o café da manhã dos filhos e lembra que um dia vai retirar toda a poeira. Eles, os projetos, ainda vão reluzir de beleza e sonho. Mas Ana não sabia que o tempo agora tem pressa em passar. Então adiou pro amanhã os compromissos da mente.

Sentada no sofá, ela se recorda dos projetos que, uns anos atrás, tirou da prateleira e deu pros filhos. Uma pena eles não terem dado tanta importância, mas essa geração não tem lá a mesma cabeça que a gente quando era jovem, pensava. Mas ela sabia que não tinha do que se lamentar. Deixou de lado sonhos pra viver vida adulta e estava realizada.

Mas, vezenquando, Ana insiste em olhar pra trás. Já não se vangloria pelas conquistas da vida adulta que os vizinhos insistem em elogiar. Nessas vezes, ela sai da poltrona e vai pra rua ver gente e um pouco de mundo, confuso e com pressa – como o tempo que agora aprendeu a respeitar. Sentada no meio fio da calçada, ela lembra das conversas que ouvia e dos sonhos altos no ônibus a caminho da faculdade. Nostálgicos resquícios de futuro do passado. Ana tira os sapatos e sente, enfim, o chão aos seus pés.

* Foto: Reprodução internet.

Calendário

Menina tola, que muito sabe, que pouco vive.

Tem vivido incessantemente no dia 18. Os dias se arrastam e, subitamente, se tornam vultos. Já não percebe a diferença entre eles. São todos resquícios do que lhe sobrou após a data.

Mas ainda bem que o tempo passa depressa e só se arrasta em momentos. Ela se leva pelos dias olhando pra trás. Mal sabe que ainda tem muitas datas pra se marcar no peito. Mais boas do que ruins. Tudo  questão de perspectiva.

Foto: Reprodução Internet.

Amanhã

Um dia, eu sei que toda essa for vai passar. Tudo o que hoje pareceu ser importante, lá na frente vai se tornar a graça do que um dia considerei meu tudo. Vou olhar pra trás e ver alívio. Felicidade é o que eu terei nalgum dia. A vida ainda me guarda essa graça. Até lá, espero por esse meu hoje.

A.

* Foto: reprodução internet.

Depois da chuva

Gosto de seguir certos rituais. Para fechar determinados ciclos na minha vida, preciso enfrentar meus medos, pelo menos para dizer adeus. E nesses dias que irrompem anos, o que mais passei foi por rituais – de despedidas.

Depois de tantos ciclos, olho para trás e vejo a beleza que paira sobre tudo. Quando passo por um momento difícil, não consigo achar as justificativas…mas sempre no final, eu encontro a razão, pois tudo tem uma razão de ser.

E hoje, contemplei a beleza do inesperado. Do retorno aos braços de quem um dia rejeitei para seguir meu próprio rumo. Mas mesmo sozinha, autodestruída por minhas escolhas, ainda te encontro aqui por perto e vejo que sua mão me segue por onde eu for. Sempre.

Então entendo um pouco mais de tudo dessa vida. O seu amor é como chuva. É como o cheiro de terra molhada. O pior já passou.

A.

* Foto: reprodução internet.

Eu acredito

large

Sempre fui fã do Peter Pan. Gosto da ideia de crianças eternas, pedaços de terra e estrelas que dão pra um outro mundo. Prendo-me às histórias que falam de fantasias, ao mesmo tempo em que nos dão pistas para a realidade. O mundo de Peter Pan é cheio de poesia. Mas apesar do pó mágico, é preciso ter fé pra poder voar.

Vezenquando tenho a mania de comparar vida corrida com filmes de criança. As facilidades com que os pequenos vêem o mundo seriam bem-vindas em nosso cotidiano, se não me parecessem quase que impossíveis de serem alcançadas. Na bagunça em que vivo, sonhos não se mantém.

E nesse ritmo, torna-se difícil viver. Aproveitar, então, é loucura. E o pior é que as pessoas parecem não se importar. É fácil julgar o ar blasé que perambula entre rostos e conversas. Mas a verdade é que tem muita gente cansada. Pergunto-me o que farão para sair dessa inércia. São engolidas pelo tempo, sugadas pela sociedade.

E quanto a mim, sinto falta de poder voar no meu próprio quarto. Já não posso me entreter com imaginação. Talvez ela tende a se enferrujar com o tempo, de preocupações. A gente cresce, responsabilidades vêm, realidade assume.

Adormece a poesia do mundo.

Talvez fé também seja poesia.

A.

* Foto: Reprodução internet.

Da celebração do Hoje

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Hoje eu resolvi acordar cedo. Joguei meus planos pro alto, e aproveitei esta manhã mais cheia de mim. Também decidi não tirar fotos, pois cada vez que o faço me distancio da realidade pra poder vivenciá-la depois. De memória.

Mas eu cansei dessas memórias. Cansei de mandar no tempo e controlar tudo o que não me cabe. Afinal eu, que tanto planejo, acabo me escondendo atrás da porta sempre que o amanhã insiste em bater. Já contei eternamente, até me perder nas minhas próprias contas.

Mas hoje, vou recuperar o que me escorre pelos dedos. Vou colher o amor dos que me amam em silêncio e me contentar com seus olhares, mais fiéis que os “eu te amos” da vida. Nesse caso, contento-me com os implícitos.

Vou aumentar o som e dançar no hall da casa. Já faz tempo que não me sentia assim, tão eu. Vou deixar as fotos, e admirar agora as curvas da minha saia enquanto giro, acordada.

Hoje, eu joguei meus planos pro alto. Os interessados, por favor, recolham os seus pedaços e o que sobrar, não se preocupe, amanhã eu os guardarei.

A.

* Foto: Reprodução internet.

Milagres da mente

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Levantei cedo da cama. É dia de trabalho, de festa de família; estranho meu primeiro pensamento ser você. Por estas horas da manhã, já cheguei a ter certeza de que você vai notar minha ausência lá pras 10 da noite, hora em que você costumava me ligar. Pergunto-me, é verdade, se você também sente falta dessa rotina. Sem paixão. Só horários. Estúpida. Tanto eu, quanto a rotina.

Mas talvez você não esteja pra essas coisas, e nem chegue a pensar em tais bobagens. Você sempre achou que penso demais nas  essências desnecessárias. Nós dois sabemos que meus desvaneios, por vezes, nos confrontaram face a face. Sei que é nisso que você encontrou razão pra fugir.

Mas quer saber de uma novidade? Li notícia no jornal sobre mudança. Um estudo divulgado hoje mostra que nosso cérebro leva pelo menos 3 meses para adquirir um novo hábito. E mais: pra que ele se acostume e se “sinta seguro” com essa nova mudança, seriam necessários, em geral, de oito meses a um ano.

Sem essa coisa de coração. Sentimentalismos tolos não ganham destaque nas páginas dos jornais. Lá pra razão, é o cérebro que faz o milagre. Que esquece e faz seguir em frente. Fato.  Fiquei feliz com essa matéria. O corpo humano tem lá seus muitos encantos.

A.

* Foto: reprodução internet.